domingo, 28 de julho de 2019

amalgamo desejo

Contei cada história
enquanto estive ébrio
E se pudesse reescrever
Faria sem mistério

Assim fora de casa,
me impus feito alcoólatra
aquele impulso ávido
ouvi cem outras vozes
Levando todo álibi
em uníssono
num ímpeto de um bêbado
falei como um patético

E a tônica da música
tocava sem propósito
E a noite feito máquina
seguia uma dinâmica

Nós dois em meios termos
Numa noite de sábado
Sentimos o fenômeno
Em sons monossilábicos
O Sol amanheceu
E trouxe um vento trágico

Mataram uma árvore
sem golpes de machado
amalgamo desejo
efêmero era o beijo
O sonho desperdiçado.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Porvires

Está tudo bem!

Já sem alarde, acalme.

Que pressa tanta é essa
Que tanto passa depressa
E por mim, num ritmo desenfreado
De repente
Para e olha p'r'o lado
um curto "oi"
vê-se a fenda entre estes lábios
Meu humor, em resposta,
é reescrito como num palimpsesto
cujos olhos não podem apagar
Sigo meu caminho contrário

Que tanta pressa
Que tanto drama

Pois bem da verdade que as pedras não amam?
Louco!
Loucos são os que enxergam o mundo
Onde a lucidez é insana.

Outro dia
E o peito exprime o que a mente silencia

Sim, bem que eu queria.

Mas não era real ao mesmo tempo.

Então me despedi da emoção.

Mas não há dor neste momento.

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Satélite em órbita.

Tracei em volta da lua uma linha branca de giz

Determinei meu próprio equador para que não ultrapasse os limites entre o norte e o sul

Mapeei meus graus e horas para estar conforme e de acordo

Mas meus polos opostos me atraíram.

E eu, com medo de enfrentar a força que vinha não sei de onde, saí de órbita.

Assim, vaguei solto ao seu redor como satélite
Vago no espaço, de corpo inerte

observando o traço feito um anel de pó de giz

Com medo de que a reentrada me obrigasse a escolher um polo e, por consequência, renunciar ao outro.

Então, no silêncio do cosmos que descansa enquanto expande, adormeceu.
E sonhou com uma escolha em que, de alguma maneira, havia o encontro entre o norte, o sul e eu.

Pois o traço embaraçoso que fez se foi com o tempo.
Curioso que se achou no instante em que se perdeu

terça-feira, 9 de julho de 2019

Ensaio sobre sonhos - Caxemira


Sonho com uma casa em branco em uma paisagem afável e boa.
Dentro dela não há nenhuma cor. Todas as paredes, janelas e portas são brancas também.
Há diversos quartos, diversos cômodos, mas sem que haja nenhuma mobília sequer.
Suas escadarias ganham espaços em que portas estão dispostas como quadros pelas paredes.
E em uma porta específica, mais velha e desgasta que outras (aqui eu posso ver, por detrás da tinta puída, a cor da madeira tentando convalescer.
Esta porta me marca por não respeitar a altura do chão. Ela está disposta no alto da parede como uma escotilha ou janela.
Quando abro, visito um recinto sagrado, um relicário.
Aqui é o único lugar já visitado na casa em que há móveis. E além deles, há também muitas cores.
Neste lugar eu encontro, à minha esquerda, a cômoda que tive na infância -muito colorida, pois seu revestimento era uma colagem de gibis da Turma da Mônica-. Além do fato de que ela parece muito menor do que era (respeitando a perspectiva de que cresci sem vê-la, e, portanto, ela notadamente deve ser menor do que posso me lembrar).
Se abro suas gavetas, encontro pés de meia perdidos, toucas esquecidas, lucas que quase não me lembrava.
Em cima dela há um copo de Coca-cola que deixei em outra visita n'outro sonho. Porém, agora o líquido não ocupa mais o copo e tem-se a marca circular sobre o móvel.
Um cabideiro sem todas as hastes que quebrei durante a infância guarda, além do meu último casaco perdido, algumas peças que usava com frequência (como um colete jeans usado dos meus 4 ou 5 anos).
Há minha primeira cama forrada com o primeiro lençol que posso me lembrar (caxemiras bordadas no pano azul).
Há também alguns sapatos - principalmente da infância) enfileirados no chão à direita de quem entra no quarto.
Mas o que me intriga é o fato de, por alguns instantes, poder acessar tanta coisa que não lembrava me lembrar.
Ao fundo, uma parede -também branca- guarda ao alto um alçapão marcado por margens de madeira macia e limpa.

Eu nunca pude avançar no interior deste cômodo porque, antes que eu prossiga ao fundo, esta realidade me arrebata de volta e eu, intrigado com o que mais guardo naquele lugar, anseio sempre quando poderei voltar.

Além do fato de que, por algum motivo, já levei visitas à casa, mas que nunca puderam entrar neste quarto comigo.

E penso que, talvez por vaidade ou acaso, eu possa guardar ali, de algum modo, as palavras nunca ditas, os sonhos esquecidos, os desejos reprimidos e os textos não escritos.

Mas que, sem pesar ou mal sentimento, guardo entusiasmo em descobrir quando voltar ao meu lugar.

Das chaves que não vou usar


Os relógios param
Os céus descansam e contemplo


A vida em seu limite ante o limiar infinito
Um vale, um mergulho
Um terço de medo

O sorriso disfarçado de figa 
E os olhos entregues
Como num sonho

A musa atravessando um campo verde
Nua de curtos cabelos 
Perdida no caos que imponho

E a ordem que chega
como vasta luz atravessando mármore
se deita entregue a seu sono

Me proíbo sentir,
Mas não a você (proponho)

Com o medo do medo de responder..
Digo, o que você tem a perder?