domingo, 30 de outubro de 2016

Instante

Em um instante

O abraço durou o bastante para que eu pudesse perceber
Que ela era meu porto seguro, confortável, afável em eternidade fraternal, meu amor bradou demasiado. Forte não foi o que senti, pois o grito ecoou dentro de mim por sentir o vazio que eu criei já sem nada de ti.

O abraço que me destes fora como desabafo. Tirei o peso dos meus ombros e me esgotei murmúrios e lamentos. Não quis ver o seu olhar com medo de me emocionar e arruinar o vazio que construí. Ainda que eu dissesse estar seguro em minhas escolhas, seria eu tão firme quanto um castelo de cartas se aproximando de um tufão.

Num vacilo recebi um discreto presente que me valeu muito mais do que realmente aconteceu. Sobretudo seu abraço, seu carinho e seu afeto, mas perceber que num curto pranto sucumbiu quando minha voz ouviu. Nuances de palavras nunca ditas se gastaram e por tanto não dizer, se ruiu.
E a face que lançamos de forma sutil perdurava o intenso encanto de um março febril, que talvez durasse três anos o que pra mim durará mil.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Balé de moscas

Se um dia o questionarem se ainda a ama, o rapaz de trajes gastos sorriria pela metade e diria:
-Tenho dores de cabeça quando a encontro vagando em meus derradeiros sonhos. Faz-me marcas de batom ao me beijar. Sua maquiagem é desnecessária, pois o rosto mais bonito ela já tem.

E se um dia questionarem se ele ainda a ama, o rapaz de tristes faces sorriria meio riso e diria:
-Faz mais de meio século de solidão que convivo com sua ausência, ela se foi há poucos meses, mas sua presença é tão densa que me consumo vorazmente para não alimentar essa paixão.

E se um dia questionarem se ele ainda a ama, o rapaz de bons amigos sorriria só um lado e diria:
-Mas que amargura é viver sem ela, pois que minhas dores são só minhas, e minhas vitórias não são belas quando estou em ela. Só me faço pela metade, sou feito doce amargo que azeda a mocidade. Não lamento perder desde que não seja só a mim sentir saudade.

E se um dia questionarem se ele ainda a ama, o rapaz de mil mistérios sorriria incompleto e diria:
-Fui fortunado por viver ao lado dela um dia que seja, pois me conheceu com profunda destreza, fez-me rir risos inteiros e foi a primeira a entender que quando havia nesta face um sorriso apenas pela metade, era porque, ou havia algo escondido, ou então era tristeza.

E se um dia me questionarem se ainda a amo, direi:
-Me visite nos belos sonhos, ao acordar responderei com pesar do encanto teu. Se tivera sido sonho bom, com certeza tens ainda tudo que é meu. Pois que quando me encanto em ilusão, sofro me despedir pela manhã ao acordar e me ver vivendo ancorado em solidão.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Musa de Dante Alighieri

Dias desses, ainda pela manhã me revelei na fotografia que estávamos sorrindo,
Ela guardava muito mais do que sua imagem, ela tinha seu perfume e sua voz me constando.

Dia desses, ainda pela manhã fui colorido por seus olhos, fui feliz enquanto tive essas lembranças
Seu cabelo desordenado entre meus dedos num carinho eterno.

Dia desses, ainda pela manhã me visitou em sonho para me provar mais uma vez, uma vez mais.
Senti tua pele, teu beijo e sua risada sobre meus lábios, me forçando a sorrir junto.

É que talvez eu precisasse mesmo de você para sorrir

Talvez para me dizer para olhar para cima quando nada estava bem

Ou ainda para respirar com calma quando eu respirava o puro caos.

É só que você.. Mas..


Dia desses, ainda pela manhã já era tarde demais.