terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Expresso em número et ceteras

"Tic tac, tic tac... U-uuuuu"

Tica tac. A onomatopeia que se relaciona ao tempo.

Mas não é o som de um relógio.

É um som de um trem desgovernado que não escolhemos embarcar.

Não sabemos quando compramos a passagem

Também não sabemos seu destino.

Alguns passageiros desembarcam ao longo da viagem e você nunca saberá se poderão se reencontrar. 

E caso tenha sorte, não podemos saber em que lugar será esse encontro. 

As paisagens, como as pessoas, vem e vão. 

Lugares lindos, engraçados, belos, infinitos, inspiradores e nostálgicos. 

Mas o que guardamos delas é aquilo que temos quando fechamos os olhos.

Um cheiro, uma imagem, a voz num arpejo.

O que fazemos da viagem pouco importa. Todos os passageiros estão perdidos esperando alguma resposta. 

Alguns ditam que o fim é o começo, outros que o expresso é uma ilusão.

Mas o tempo segue como uma locomotiva lenta e poderosa, derrubando a pele sob os olhos, enrugando os lábios e tornando flácido o que era tonificado.

Eu, um mero transeunte não sei como esperar. 

As estações passam por mim e eu vejo o carrossel da vida indo e vindo.

Ora me levanto, passeio nos corredores. Me divirto com outros tantos loucos.

Mas nunca me esqueço de que eu queria mesmo era tomar o controle desse lugar e fazer meu próprio caminho.

De repente saltar do trem em movimento, cair de pé em uma carruagem e, como um bandido faroeste, fazer de tudo uma grande aventura.

Mas eu seria demais pra mim.

Eu afogo meus devaneios, fecho a cortina e tento cochilar no embalo do seu balanço.

E tão logo me esqueço do futuro. 

Assim posso sorrir para mim mesmo. 

Eu, meu eterno companheiro atemporal.