Quando os lábios acham que o mar tem outro sabor
Nos meus vem o mesmo de sempre
O mesmo sal,
perene e desgosto final
Mas o mesmo
Porque não ressignifico nada.
Se Belchior ganhou a luz da manhã
De certo outra manhã terá Beto Guedes ou Lô Borges
Se o brilho da manhã tocou a tez pálida dela
Quem sou eu para renovar aquele brilho.
De certo que a luz da lua não fora ocupada, ou quem sabe uma brisa, uma folha de amoreira.
Eu, por outro lado, me sinto reescrito em uma linha ainda por escrever.
Forçado a nada, nem lembrança nem consideração.
Não sou mar
Não sou música
Nem história.
E escrevo como marca fraca resistindo a um forçado palimpsesto (palavra que descobri através dela).
E sigo som de meus ecos, pois ainda falo com as paredes.
"E o seu olhar distante e frio/ Hoje me diz bem mais sobre você/ Te perguntar sobre o seu dia /É tão difícil, você tem que ver/ Nem tudo que eu disser/ Talvez você consiga usar/ Algumas coisas não vão bem/ Não há motivo pra enganar/ Eu sei, tudo mudou/ Eu vi, você mudou demais".