quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Nós desastrados

Quando os lábios acham que o mar tem outro sabor

Nos meus vem o mesmo de sempre


O mesmo sal, 

perene e desgosto final 

Mas o mesmo


Porque não ressignifico nada.


Se Belchior ganhou a luz da manhã 

De certo outra manhã terá Beto Guedes ou Lô Borges


Se o brilho da manhã tocou a  tez pálida dela

Quem sou eu para renovar aquele brilho. 

De certo que a luz da lua não fora ocupada, ou quem sabe uma brisa, uma folha de amoreira.


Eu, por outro lado, me sinto reescrito em uma linha ainda por escrever.

Forçado a nada, nem lembrança nem consideração.


Não sou mar

Não sou música

Nem história.


E escrevo como marca fraca resistindo a um forçado palimpsesto (palavra que descobri através dela).

E sigo som de meus ecos, pois ainda falo com as paredes.

"E o seu olhar distante e frio/ Hoje me diz bem mais sobre você/ Te perguntar sobre o seu dia /É tão difícil, você tem que ver/ Nem tudo que eu disser/ Talvez você consiga usar/ Algumas coisas não vão bem/ Não há motivo pra enganar/ Eu sei, tudo mudou/ Eu vi, você mudou demais".

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Expresso em número et ceteras

"Tic tac, tic tac... U-uuuuu"

Tica tac. A onomatopeia que se relaciona ao tempo.

Mas não é o som de um relógio.

É um som de um trem desgovernado que não escolhemos embarcar.

Não sabemos quando compramos a passagem

Também não sabemos seu destino.

Alguns passageiros desembarcam ao longo da viagem e você nunca saberá se poderão se reencontrar. 

E caso tenha sorte, não podemos saber em que lugar será esse encontro. 

As paisagens, como as pessoas, vem e vão. 

Lugares lindos, engraçados, belos, infinitos, inspiradores e nostálgicos. 

Mas o que guardamos delas é aquilo que temos quando fechamos os olhos.

Um cheiro, uma imagem, a voz num arpejo.

O que fazemos da viagem pouco importa. Todos os passageiros estão perdidos esperando alguma resposta. 

Alguns ditam que o fim é o começo, outros que o expresso é uma ilusão.

Mas o tempo segue como uma locomotiva lenta e poderosa, derrubando a pele sob os olhos, enrugando os lábios e tornando flácido o que era tonificado.

Eu, um mero transeunte não sei como esperar. 

As estações passam por mim e eu vejo o carrossel da vida indo e vindo.

Ora me levanto, passeio nos corredores. Me divirto com outros tantos loucos.

Mas nunca me esqueço de que eu queria mesmo era tomar o controle desse lugar e fazer meu próprio caminho.

De repente saltar do trem em movimento, cair de pé em uma carruagem e, como um bandido faroeste, fazer de tudo uma grande aventura.

Mas eu seria demais pra mim.

Eu afogo meus devaneios, fecho a cortina e tento cochilar no embalo do seu balanço.

E tão logo me esqueço do futuro. 

Assim posso sorrir para mim mesmo. 

Eu, meu eterno companheiro atemporal.


   

terça-feira, 17 de outubro de 2023

Ecos dimensionais

 Meu amor


Eu sei que te magoei.


E eu fiz isso por estar à deriva, mas ancorado em alguém que não navega mais comigo


Não aprendi nada. O motivo dela ter partido foi exatamente o mesmo. 


Eu não sou de amores tranquilos


Acho que as vezes o baque das emoções são as únicas maneiras de eu me sentir vivo.


Mas também acho que sou uma mentira, porque eu me sentia vivo quando navegávamos em alto-mar.


Bom, me recuo ao lugar de nada esperando que numa outra dimensão nossos ecos ainda sejam felizes juntos sem nenhum trauma, dor ou desespero que vivemos por aqui.


E eu assistiria esses ecos como um filme de final feliz que eu me alegrasse com a esperança de um dia sermos nós a terminar juntos.


Bobeira, eu sei.


Mas a falta as vezes pesa mais do que uma simples rotina tediosa.


A minha fuga não está na rotina, mas nos lugares seguros que eu posso ser eu mesmo e desabar do acumulo de ser alguém tão dorido.

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Ensaio sobre ebriedade

 Instilado o veneno

Corre agora em minhas veias a indiferença

A ingratidão

O narcisismo e falta de consideração

Sua voz.. A indecisão.. O vacilo em responder que não me ama

Mas o ponto final não estabelecido.

A eterna dúvida que levarei para os sonhos

O desejo incontido que me revira na cama e nos banhos.

A falta

Você.


Sua voz me corroeu a sobriedade.