quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Eu não quis dizer

Eu não quis dizer
Mas eu te presenteei milhões de vezes
Te dei flores que morreram
Te músicas que acabaram
Te dei papéis que desbotaram
Estrelas que apagaram e momentos que se foram

Te dei meu coração quando batia
Te dei a cidade que era minha
Dei sorrisos sóbrios,Sinceros e felizes
Me viu de perto com todas as cicatrizes
Te concedi boas lágrimas
Arranquei-te gargalhadas
Te dei força para seguir
E motivos para acreditar
Disse que ia conseguir
E hoje sabe aproveitar


Te dei amor e não fiz nada mais do que minha obrigação
Inclusive em nome dele eu te concedi perdão.

Mas de todas as coisas que te dei, a maior delas você não percebeu...

Em cada coisa que te dei, dei com minh'alma embuída

Até meu silêncio que tornou sua partida menos dolorida.

Duas linhas

Não durmo, caso queira saber
Não paro um segundo sequer de pensar em você
Eu corro das memória frias
Esqueço durante alguns dias
Mas me alcançam seus beijos, seus abraços
Qualquer lugar que eu esteja, eu enxergo seu rastro
Como uma nuvem púrpura pelo caminho,
Ou um laço rubro no mindinho
Seu nome está em todo lugar
Menos onde deveria estar
Quando grito, quando chamo,
Quando peço e quando clamo
 você nunca está ali
Minto se disser que desisti 
Tão perto e tão distante
Quando olha pra mim um instante
Mostra que não sou mais o bastante

Atol

Suas canções são como areia fina de uma ilha..
Um só sopro e se dissipa pelos mares
Não tem nada demais, mas não tem nada de extraordinário em seu sentir.

Me lembro de tudo que fomos, porque só um de nós sentiu como um universo, o outro insiste em areia fina e clara
Malfadada à coisa alguma

Eu não posso fixar minhas raízes em uma ilha
Sou maior que isso, querida, sou paixão, sou amor, sou amarras...
E você é.. só uma ilha

Campanha

Sou uma bomba relógio
Toda manhã reiniciada

Sou uma arma contra a cabeça
E ela está municiada

Um soldado em campanha
Perdido no campo de batalha

Onde inimigos sem face triunfam
Porque a fadiga me atrapalha

Quem sou?
Alguém prestes a cair
Uma tolice, uma memória

Dentre guerras
Sou derrota
Fracasso sem vitória

Sob a porta

O vinho tinto escorre em minhas paredes e encrostam o meu chão

Jogo meu corpo e lavo a alma deitado ali, chafurdado na ilusão

Enquanto vejo sob a porta as sombras de vidas que seguem sem sequer me doar o mínimo de atenção

Meu amor é perigoso

Terça feira. A noite cai com o vagar de uma cruzada medieval
Eu sigo meu caminho e (exausto) trilho meu caminho. Mas na volta eu vejo tudo destruído
Não há nada no lugar. Há um rastro de desconfiança que sou capaz de farejar no ar carregado que se instaurou em mim.

A razão? Não há!

Podem revirar todas as minhas tumbas e exumarem meu corpo. Só vão encontrar dor e solidão. Mas o motivo pelo qual vieram não existe. E isso só me machuca.

Eu sinto muito. Eu não posso ser melhor e não consigo não estragar tudo.

Sinto muito.

Eu não quero e não vou retaliar.

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

canção do olhar

os foliões tentaram, mas havia no centro da frança ou do Peru um sorriso que calava o mundo
Seu olhar discreto e sua voz afinada e doce me embalaram melhor do que mil tambores regrados.

E eu sorri por dentro, mas só enquanto a sua melodia soava.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Cartas em meu nome

Ando caminhos inteiros, corro de atalhos, subo montes e contorno a cidade para desviar das suas sombras.
Mas mais tarde ou menos tarde você me surpreende no metrô ou numa praça pública.
E isso basta para que eu me lembre de que não há um lugar, uma pessoa, uma existência sequer que tenha passado por mim e não tenha ouvido falar de você.

A Cecília é a lagartixa que eu divido meu quarto. Ela me escuta como ninguém, ela me poupa de ter que escrever tanto. Está sempre observando bastante e dizendo pouco. Mas eu sinto que ela me quer bem como a mais ninguém.

Então sinto muito pela insuficiência.
Obrigado.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Viver Orionidas

Quando.. Seus dias se tornarem ligeiramente amenos e as nuvens encobrirem parcialmente o esplendor do astro rei.

Quando suas tardes calmas reclinarem a preguiça em menos ócio ou sesta,

Ao fim de todo ser. Longe dos palcos e da atenção promíscua velada de uma identidade mascarada de carência.

Assim, somente assim, quando o momento chegar, seja a noite.

Seja serena, discreta e encantadora por sua natureza. Não se importe em castigar seus amantes, contemple-os mesmo através das nuvens. Seja estrela, seja a lua, o orvalho, a calmaria.

Seu orgulho é letal, perverso
Ignora as emoções
Não calcula suas ações
E destrói meu universo.