quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Balé de moscas

Se um dia o questionarem se ainda a ama, o rapaz de trajes gastos sorriria pela metade e diria:
-Tenho dores de cabeça quando a encontro vagando em meus derradeiros sonhos. Faz-me marcas de batom ao me beijar. Sua maquiagem é desnecessária, pois o rosto mais bonito ela já tem.

E se um dia questionarem se ele ainda a ama, o rapaz de tristes faces sorriria meio riso e diria:
-Faz mais de meio século de solidão que convivo com sua ausência, ela se foi há poucos meses, mas sua presença é tão densa que me consumo vorazmente para não alimentar essa paixão.

E se um dia questionarem se ele ainda a ama, o rapaz de bons amigos sorriria só um lado e diria:
-Mas que amargura é viver sem ela, pois que minhas dores são só minhas, e minhas vitórias não são belas quando estou em ela. Só me faço pela metade, sou feito doce amargo que azeda a mocidade. Não lamento perder desde que não seja só a mim sentir saudade.

E se um dia questionarem se ele ainda a ama, o rapaz de mil mistérios sorriria incompleto e diria:
-Fui fortunado por viver ao lado dela um dia que seja, pois me conheceu com profunda destreza, fez-me rir risos inteiros e foi a primeira a entender que quando havia nesta face um sorriso apenas pela metade, era porque, ou havia algo escondido, ou então era tristeza.

E se um dia me questionarem se ainda a amo, direi:
-Me visite nos belos sonhos, ao acordar responderei com pesar do encanto teu. Se tivera sido sonho bom, com certeza tens ainda tudo que é meu. Pois que quando me encanto em ilusão, sofro me despedir pela manhã ao acordar e me ver vivendo ancorado em solidão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário