quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Talvez depois.

Entardeceu, as gotas frias daquela chuva fina o acertavam com o leve sopro daquele ar gelado.

Ele estava sozinho, descalço com os pés mergulhados no lago. A água era quente e do horizonte enevoado conseguia enxergar o paraíso.

Um só passo e as pedras sob seus pés massageavam suas pegadas

Outro passo e a água encontrava suas finas canelas aliviadas pelo calor da água calma.

O vento era contrário, quase o impedia de prosseguir. Mas o moço insistia.

Mais um passo e a água o atingia acima do joelho.

Era confortável estar a caminho do infinito.

As gotas pulverizadas bailavam com o vento e encontravam o rapaz sem direção certa.

Um pulo e seu corpo ensopou, seus pés flutuavam distantes na imensidão

Seu corpo todo mergulhado e a torpeza o faziam enxergar melhor. Debaixo d'água sua visão não era pior do que a do nevoeiro lá fora.

E ele, sem saber a direção, se acalma até que seus pés se confortam no fundo.

Era escuro, mas quente. A pressão o fazia sentir dentro de um abraço afável. Aqui suas lágrimas se confundiam com a vastidão e ele não queria mais estar com ela.

Ele repousa por inteiro no fundo e curiosamente coleta para si um seixo.

De volta à paisagem do nevoeiro, vê-se o homem retornando a passos cansados de seu mergulho.

Deita exausto na margem e, em sua mão ainda firme completa de acaso, ainda traz consigo sua recompensa. A leva ao peito e se entrega à garoa fraca e gélida.

Seus olhos encontram nuvens de todas as cores, e em uma delas reconhece as cores dos olhos dela.

Ainda sentindo petricor, se arrepende por ter ido tão longe.

"Lamento, hoje não"

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