quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Contra a maré

Senti a brisa vindo do alto mar tocar meu rosto. Naquele instante era bem-vinda. Avanço mais um pouco. A areia, antes fofa, dá lugar à outra firme e úmida. A água fria toca meus pés me convidando a entrar.

Segui bem-vindo confortável até demais. O vento se adequou inconformado e soprou para me atingir, trazendo consigo gotículas que me lembraram o sereno ou fina garoa das longas madrugadas.

O mar se agitou, parecia agora desconfortável com a minha presença. O vento mudara o clima, o tempo e o mar se arritmou.

Estava agora com a água até o peito. A pressão sobre os meus pés era um afago, o frio parecia ser uma única linha onde a flor da água tocava minha pele nua.

Me distraio

Tarde demais, vejo uma onda quebrando sobre mim, seu agito violento, as escumas cândidas, a areia pálida, o sol avermelhado e o sal demasiado.

Me afoguei por completo, esqueci de molhar os punhos, perdi o controle.

A maré me levou ao raso.

Agora estou a salvo, mas dentro de mim ainda há o gosto das desventuras do alto-mar.   


Nenhum comentário:

Postar um comentário